2008/07/24

Salvem as praças! Salvem-nos de nós mesmos!

Salvem as praças! Salvem-nos de nós mesmos!


http://www.novaiguacu.rj.gov.br/ver_noticia.php?codNoticia=1907




Por que recuperar praças?

Mais do que recuperar o espaço público, é urgente recuperar o convívio no espaço público.

Orientar, desenhar e planejar o espaço público para as crianças, os jovens e as famílias. Entendendo como são as crianças, os jovens e as famílias de hoje. A condição contemporânea destes usuários.

Não estamos mais no século de XIX do flaneur pela cidade, do maravilhamento com a cidade. Não se contempla mais a cidade. A cidade nos contempla. A cidade converteu-se em opressora e desumana. Pela falta de planejamento, pela falta de idéias e pela omissão pública.

Com a perda de sentido do espaço público as pessoas buscam refúgio e convívio no espaço privado - veja o sucesso, em escala nacional, do evento casa cor; a sofisticação das áreas de uso comum nos lançamentos imobiliários; a oferta, cada vez mais rica e complexa, de atividades em "espaços privados de socialização", os shoppings, os centro culturais, que mesclam, sedutoramente, cultura, comércio e ócio.

A sociedade da informação, que no Brasil, é também paradoxal, também cria um novo campo de complexidade, que tem rebatimentos no território.

Somos quinto lugar no mundo em acesso a internet, com 21,9% da população acessando a internet (32,1 milhões de usuários), apesar da relação de usuários da rede em comparação ao restante da população não-usuária ser das mais baixas - somos 62 o. lugar no mundo em acesso proporcional à população total (os dados não podem ser precisos pela dificuldade de pesquisa, mas seja pelo IBGE, seja pelo IBOPE, os dados revelam a dicotomia entre grande quantidade de usuários mas baixa proporção em relação a população geral - os dados citados são do PNAD 2005 IBGE).

Esta parcela de internautas já convive socialmente em um outro território, virtual, seja usando os recursos de mensagem on line; seja pelos sites de rede social como orkut (que foi dominado pelos brasileiros), myspace, facebook, etc; seja pela proliferação de lan-houses nas comunidades carentes, ofertando além do acesso a internet, a possibilidade dos jogos on line, da interação on line, da liberdade da autoridade; seja pela extrema sedução dos games, cada vez mais interativos (o Nintendo wii, pelo revolucionário modo de jogar, por interação corporal, está sendo utilizados por fisioterapeutas e em asilos de idosos nos EUA. Também nos EUA, a indústria de games já é segunda indústria do entretenimento, já muito próxima economicamente da indústria do cinema).

Estamos assistindo, participantes ou não, de um novo modo de construção de interações, de convívio, de encontros, de montagem de redes e de diálogos. E em escala, da construção de uma nova psique. Um novo ego.

Como chamar a atenção desta nova mente infantil e juvenil para o espaço público?

Através de espaço ativos, dinâmicos e interativos, onde o design surge como construção de possibilidades e não mais como formalizador de soluções. Um espaço aberto a interação, sedutor e acolhedor.

Esta tem sido nossa experiência em Nova Iguaçu com o Programa Praça-Escola, propondo articulação em rede das praças com as escolas, e desenhando brinquedos e mobiliário urbano interativos.

É urgente entendermos nosso tempo para termos propostas precisas para o tema do resgate do uso do espaço público.

Salvar nossas praças, salvar seu uso, é salvar o nosso potencial como sociedade democrática. É proteger o futuro. É investir na civilização brasileira.

É salvar-nos de nós mesmos.


Washington Fajardo