Os jornais e sites de notícias deram todos com enfoques diversos - heroísmo, risco, graça - a história do menino Riquelme Uesléi Maciel dos Santos, de 5 anos, que salvou a menina de 1 ano e 10 meses de um incêndio, em Palmeiras, cidade a cerca de 200 Km de Florianópolis.
O fato pitoresco e jornalístico está na roupa que o menino usava quando do ato de bravura: uma camisa como o uniforme do Homem-Aranha.
Obviamente tal camisa e a imagem decorrente dela criam um universo de bravura e heroísmo na atitude do menino. E a ser explorado pela mídia.
Algumas notas alertam para o perigo em que incorreu Riquelme, e que não se faça o mesmo em casa! Este é o alerta dos Bombeiros, que pela hora da sua chegada ao local do incêndio encontrariam a menina provavelmente morta.
O menino por sua vez sentia-se protegido pela camisa e, claro, pelo herói; e, sem medo, relata o causo com riso: Você é o Homem-Aranha? Não, sou filho dele!
Essa é uma história arquetípica de como o sonho vence o medo. Usada até em campanhas presidenciais!
Temos em Riquelme, e em seu ato, um belo gesto mítico: o nascimento do Herói.
Riquelme foi "protegido" pelo seu sonho de menino. Ou melhor: Riquelme se expôs movido pelo sonho.
Havia risco, é claro. A antítese do fato seria terrível: duas crianças mortas em incêndio! Tão manchete ou mais. Mas o fato foi a vitória promovida pelo sonho.
Sempre dá certo? Não. Sempre dá errado? Não.
Mas é uma força de movimento tão rara que quando acontece é a observação mais próxima do que podemos chamar de Arte.
Riquelme foi Artista.
Não como os enfadonhos burgueses que povoam as galerias e o circuitinho mas foi Artista da grande aventura humana.
Separados por poucas páginas, estavam lá os outros: traficantes classe alta! Modelos de beleza encarcerados. Corpos magníficos algemados. O fim do quê? Do sonho? Não. O fim da busca de prazer na realidade imediata. O fim da utopia.
Tão diametralmente opostas estas duas notícias estão interligadas: a capacidade de sonhar. E, principalmente, de mover-se em direção a algo desconhecido.
Estas pequenas notas, como a do menino, mostram como este sonhar é importante e como é pouco levado em conta na construção da nossa realidade, ou realidades, e que possam nortear nossa sociedade. Cujos objetivos "reais"- dinheiro, carreira, sucesso, corpos - produzem os atores das outras notas policiais.
E não se trata também de eleger heróis. Ou de se elancar altas morais. Utilizamos ambos, heróis e moral, como quem troca de roupa.
Trata-se de promover sonhos no plano do indivíduo e suas cercanias - família, escola - e no das instituições.
Trata-se de ter sonhos que possam mover todo um país em direção ao fogo!
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