2008/09/11

Vale a pena salvar o Gasômetro?

Avança rapidamente a demolição do segundo tanque do Gasômetro, em São Cristovão.
Do total de três tanques, um já foi demolido, o segundo está em rápido processo de desmontagem.
Estas estruturas são raros exemplos do passado industrial do Rio e ficaram obsoletas com a passagem para o sistema de distribuição de gás que reduz drasticamente a necessidade de reservação.
A mudança tecnológica é perfeita: é mais eficiente, mais econômica e, principalmente, mais segura.
Os grandes tanques que armazenavam gás, apesar de seguros e de nunca terem causado maiores transtornos, pelo simples princípio da reservação representavam risco.
Por tal motivo inclusive foram alvo de maquinações conspiratórias no período da ditadura militar, cujo plano de explodi-los e responsabilizar a guerrilha levou o Capitão Sergio Miranda de Carvalho, do Para-Sar, a negar o cumprimento da missão. Este foi afastado da Aeronáutica, dado como louco. Somente muito tempo depois houve certo reconhecimento deste ato heróico. O episódio ficou conhecido como Caso Para-Sar, ou Atentado ao Gasômetro.
Além deste aspecto simbólico da vida política carioca e brasileira os tanques são belas estruturas metálicas montadas em princípios do século XX, quando da criação da Fábrica de Gás, em área de aterro que definiu o perfil atual da Região Portuária, em 1901. Com tamanhos médios de 50 metros de diâmetro por 50 metros de altura os tanques estão presentes na paisagem urbana da região e na paisagem da cidade como vistosos elementos que anunciavam a urbanidade, a prosperidade industrial, situados na "entrada" da cidade, papel que era atribuído à Avenida Francisco Bicalho.
Tal força e presença, é referência urbana até hoje, a ponto, por exemplo, de ter influenciado claramente o arquiteto francês Jean Nouvel, quando da sua primeira visita ao Rio para conhecer a área de implantação do Museu Guggenhein, que ficou estupefato com tais elementos a ponto de propor, no museu, um outro tanque, de mesma proporção, em alusão direta aos tanques do Gasômetro e, segundo dele, deste modo, pontuar as duas extremidades da região portuária com estes elementos.
Pois bem, avança rapidamente a desmontagem do segundo tanque. Parece que logo não haverá registro destes elementos que nos recebe na cidade e que convivemos há mais de 100 anos.
Este passado industrial do Rio terá sido tão inócuo há ponto de não mais querermos nos lembrar dele?
Vemos no mundo, belos exemplos de manutenção destes elementos na paisagem urbana, reconvertidos em outros usos, cinemas, habitação, teatros, lojas, inclusive vazios, como grandes elementos cênicos urbanos e festivos, marcando áreas livres de belos parques em áreas industriais abandonadas.
Preocupação maior que o desaparecimento destes elementos é saber que bela arquitetura poderá ser construída ali: um exemplar neo-neo-neoclássico, ou um mais um shopping inodoro, insípido e asséptico?
Quem pode proteger o Gasômetro e assim proteger um pedacinho da nossa história? Quem pode?

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